
A suprema vibração
Publicação em 26.04.22Charge de GERSON KAUER

Quinta-feira da última semana de outubro de 2017, era uma tarde aziaga no Supremo. Na esquentada troca de flechadas verbais entre Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso ouviram-se difamações antagônicas sob o manto da imunidade jurisdicional.
- Vossa Excelência já foi advogado de bandido internacional – disse o primeiro.
- Vossa Excelência não julga, não fala coisas racionais, está sempre com ódio de alguém – rebateu o segundo.
E por aí se foram os dois, em farpas cada vez mais pesadas, até que a presidente Cármen Lúcia interrompesse - “por alguns minutos” - a sessão.
A notícia do confronto verbal se espalhou como um rastilho em Brasília e, rápido, mais operadores jurídicos foram chegando à corte, pensando em - na retomada dos trabalhos – escutar novas farpas ao vivo, e/ou assistir um imprevisível desfecho.
A segurança do STF reforçou presença na sala de sessões e resolveu, também, aplicar o que seus agentes chamam de “cana dura”. É a dica que significa ser minuciosamente exigente na revista dos pertences pessoais de todos os que chegam – mesmo os mais conhecidos e idôneos frequentadores.
O inédito rigor fez encher o armário de inusitados objetos guardados temporariamente: biscoitos de polvilho, bolachinhas recheadas, determinados cigarros, cremes, géis e isqueiros, um par de sapatos altos guardados numa bolsa e... um vibrador – daqueles que servem para relaxar pessoas tensas.
Na saída, na hora da devolução, a segurança fez compenetrada discrição: não revelou quem eram os felizes donos dos objetos, entre estes um estimulador sexual, de cor azul celeste, devidamente acondicionado numa caixa de bom tamanho.
E não se falou mais nisso.