
Expedito, o pinto do padre
Publicação em 26.07.21Charge de Gerson Kauer

Antes da pandemia, o erudito desembargador lecionava num curso para formação de magistrados. Aos doutos alunos exortou que - quando ingressados na profissão - se relacionassem polidamente com os advogados, com a imprensa, e principalmente com a sociedade – “que em última análise é a empregadora da magistratura”.
O douto também recomendou: “Evitem o uso do juridiquês. Façam o possível para estar pelo menos oito horas diárias nos respectivos fóruns, de segunda a sexta. Recordem de sempre falar simples, objetiva e verdadeiramente”.
E arrematou: “Evitem elogios corporativos e sejam objetivos”.
Em seguida, o douto contou uma historinha coloquial de como a comunicação malfeita – que não seguisse os ensinamentos acima - poderia causar problemas.
>>>>>
Eis. O vigário da cidade de uma comarca interiorana tinha, como mascote, um pinto (filhote de galinha, novo), chamado Expedito. Certo dia, o pinto Expedito desapareceu, e o religioso imaginou que alguém o tivesse furtado. No domingo, no final do sermão da missa, o padre disse que precisava da colaboração da comunidade para resolver um problema pessoal. Então questionou:
- Alguém de vocês aqui tem um pinto?
Todos os homens se levantaram.
- Não, não - disse o vigário. Não foi isso que eu quis dizer. O que eu gostaria de saber é se algum de vocês viu um pinto?
A maioria das mulheres levantou a mão.
- Não, não, repetiu o vigário. O que eu gostaria de saber é se algum de vocês viu um pinto que não lhes pertence.
Metade das mulheres se levantou.
- Não, não! – desculpou-se o vigário, já se atrapalhando. Vou formular melhor. A minha pergunta é uma só. Alguém de vocês viu o meu pinto Expedito?
Duas freiras sinalizaram.
- Esqueçam, esqueçam - atalhou o padre. Vamos continuar a missa!
Por isso, o religioso encerrou a liturgia da palavra e passou para os atos da eucaristia. E não falou mais no pinto.
>>>>>
No arremate da aula para os futuros juízes, o desembargador fez, então, a comparação pertinente:
- Comunicação confusa, ou mal feita, dá nisso!
Sua Excelência tinha razão.